INTRODUÇÃO: Cerca de 90% dos casos de câncer de pulmão no mundo são atribuíveis ao tabagismo, porém menos de 20% dos fumantes desenvolvem câncer de pulmão. Fatores como dieta, doenças pulmonares crônicas, ocupação e, possivelmente, exposições ambientais também têm papel na etiologia desse câncer. Os fatores genéticos parecem influir na ocorrência da doença, mas as características que influenciam a suscetibilidade à neoplasia pulmonar não são precisamente conhecidas, obscurecidas pela forte influência dos fatores ambientais na determinação da doença, particularmente o tabagismo. OBJETIVOS: Estimar o efeito da ocorrência de câncer em parentes de primeiro grau no risco de câncer de pulmão. TIPO DE ESTUDO: Estudo caso-controle de base hospitalar. LOCAL: Região Metropolitana de São Paulo. PARTICIPANTES: 334 casos de neoplasia pulmonar e 578 controles emparelhados por hospital. VARIÁVEIS ESTUDADAS: Casos e controles foram entrevistados com respeito ao passado de neoplasias em parentes de primeiro grau, tabagismo, tabagismo passivo, ocupação, migração e status socioeconômico. Utilizou-se a regressão logística não-condicional para calcular o risco de câncer em familiares, o efeito conjunto de câncer em familiares e uso de tabaco, e para controlar potenciais variáveis de confusão. RESULTADOS: O odds ratio (OR) ajustado revelou um discreto excesso de risco para câncer de pulmão, não estatisticamente significante, entre os indivíduos com história de câncer de pulmão na família (OR 1,21; intervalo de confiança de 95% [IC 95%] 0,50 -- 2,92) ou entre aqueles com história de outros cânceres relacionados ao tabaco na família (OR 1,36; IC 95% 0,87 --2,14). Foi observado um efeito dose-resposta positivo para o risco de câncer de pulmão de acordo com o aumento do consumo de cigarros. Detectou-se uma interação entre as variáveis câncer na família e tabagismo. CONCLUSÕES: Observou-se um discreto aumento do risco de câncer de pulmão entre indivíduos com história positiva na família de câncer de pulmão e outros cânceres relacionados ao tabaco. Esses resultados sugerem que a presença de aglomerados de câncer na família pode ser considerada como um marcador de suscetibilidade e aumenta o risco de câncer de pulmão entre os fumantes. A interação detectada entre as variáveis agregadas de câncer na família e tabagismo no risco de câncer de pulmão é uma contribuição no conhecimento dos mecanismos da carcinogênese e poderá orientar futuras pesquisas no campo da genética do câncer.
CONTEXT: Around 90% of lung cancer worldwide is attributable to cigarette smoking, although less than 20% of cigarette smokers develop lung cancer. Other factors such as diet, chronic lung diseases, occupation and possibly environmental agents also contribute to this cancer. Genetic factors seem to play a role in lung cancer, but the precise characteristics influencing lung cancer susceptibility are not known, since genetic factors are easily obscured by the strong environmental determinants of lung cancer, particularly smoking. OBJECTIVE: To estimate the effect that cancer occurrence among first-degree relatives has on the risk of lung cancer. DESIGN: Hospital-based case-control study. SETTING: The metropolitan region of São Paulo, Brazil. PARTICIPANTS: 334 incident lung cancer cases and 578 controls matched by hospitals. MAIN MEASUREMENTS: By means of a structured questionnaire, cases and controls were interviewed about cancer occurrence in first-degree relatives, tobacco smoking, exposure to passive smoking, occupation, migration and socioeconomic status. Non-conditional logistic regression was used to calculate the risk of familial cancer aggregation, the effect of cancer in first-degree relatives and smoking in conjunction, and for controlling confounders. RESULTS: The adjusted odds ratio (OR) revealed a slight, but not statistically significant, excess risk of lung cancer for subjects with a history of lung cancer in relatives (OR 1.21; 95% confidence interval [CI] 0.50 -- 2.92). The same was found among those with a history of other tobacco-related cancers in relatives (OR 1.36; 95% CI 0.87 -- 2.14). A step gradient effect was observed regarding lung cancer risk, in accordance with increases in the number of pack-years of cigarette consumption. An interaction between familial cancer aggregation and tobacco smoking was detected. CONCLUSIONS: A mildly elevated risk of lung cancer among persons with a positive history of lung and other tobacco-related cancers was observed. The finding of an interaction between the variables of familial cancer aggregation and smoking suggests that familial cancer aggregation could be considered as a marker of susceptibility, increasing the risk of lung cancer among smokers. These results improve our knowledge of lung carcinogenesis and can guide future cancer genetic studies.
